Obra catalisadora da montagem teatral de mesmo nome que, em 2004, projetou o ator e autor carioca Michel Melamed, Regurgitofagia ganha uma nova edição trilíngue (português, inglês e francês), com o acréscimo de fotos e de textos inéditos.
Como indica o neologismo do título (regurgitar: expelir o excesso, especialmente pelo estômago; fagia: comer), o volume é um organismo linguístico que se constitui ao mesmo tempo que se devora, num (retro)movimento incessante; um vernáculo movediço que não faz sentido fora de seu próprio caos.
A melhor definição é a partir do não formal. Não é poesia, não é microconto, não é vinheta, não é roteiro.
É algo eletrificado pela experimentação, pela arritmia, uma multicolagem cujo radicalismo deliberado e sensorial o aproxima do signo modernista oswaldiano, sobretudo ao destilar o éter anárquico na crítica ao consumismo, às megacorporações, aos enlatados, à coisificação.
Há também uma influência notável da poesia marginal, irradiada de autores como Waly Salomão e Paulo Leminski.
Fica claro que a falta da oralidade e da dramatização diminui o impacto do texto, porém nada que subtraia a marca original desse tratado verborrágico.
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Livro: Regurgitofagia
Editora: Bertrand Brasil
Avaliação: Bom