Aqui é o crime, de Artur Rodrigues, tem como evento catalisador um assalto a banco no centro de São Paulo.
É a partir desse acontecimento que o romance dá voz a personagens ligados direta ou indiretamente ao roubo, através de capítulos curtos conduzidos em ritmo polifônico, uma narrativa-coral.
São os ladrões, o chefe do crime que dita as ordens da cadeia, o jornalista que cobre o caso, o delegado, a mulher do traficante e o menino que vê o pai policial morrer, dentre outros, que, ao descrevem recortes multifários de suas vidas, acabam revelando a maneira como se relacionam com o crime.
Rodrigues se sai muito bem na forma que se propôs a contar sua história.
O autor consegue construir e individualizar seus personagens pelo modo como falam, mesmo que a grande maioria se valha de uma dicção marginalizada, marcada por gírias, palavrões e figuras de linguagem.
Certos capítulos, inclusive, vão além do enredo central, dando dimensão ao contexto em que o narrador está inserido, a exemplo das passagens focadas nos trabalhos do jornalista e dos policiais, e quando descreve, com um timbre infantil, a memória semiapagada que sublima a dor.
Ocorre que o fio condutor que liga esses fragmentos é frágil. O assalto, que é anteposto a toda a trama, nunca atinge o impacto que deveria e, em alguns trechos, a conexão entre o fato e o personagem soa confusa, por vezes forçada, mesmo que se tenha um leitor empenhado em constituí-la.
Eliminando um ou outro capítulo, seria um bom volume de contos. Já como romance, carece de compacidade.
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Livro: Aqui é o crime
Editora: Patuá
Avaliação: Regular