O vento da noite, da inglesa Emily Brontë (1818 – 1848), foi lançado, pela primeira vez, no Brasil, em 1944. Fora de catálogo desde então, a obra, agora, ganha uma reedição bilíngue, mantendo a tradução do escritor mineiro Lúcio Cardoso. A organização é de Ésio Macedo Ribeiro.
Conhecida pelo clássico O morro dos ventos uivantes, Brontë teve pequenas incursões pelo gênero poético. Sua obra completa resume-se a 33 poemas, alguns dos quais descobertos postumamente, no secreto de cadernos investigados pela irmã da autora.
A inextensão, porém, não furta em nada a potência dos versos.
Comandadas pelo ritmo e, sobretudo, pela tônica vocal, as composições situam o eu lírico como agente de um universo de observações sobre a própria existência e a natureza de todas as espécies que o circunda.
A experiência é pontuada por manifestações de sentimentos (a maioria soturnos) e de aventuras abstratas, que contemplam imagens expressivas e questões como a infância, a condição feminina, a finitude, o sagrado e o mundano.
Ó, mortal!/A fábula da vida é narrada bem depressa,/Mas basta uma vida – para não se morrer jamais, de “Eis que estás de volta”.
Para além do sedimento artístico, vale atentar para as soluções de tradução de Cardoso.
Como aponta a tradutora Denise Bottmann, na orelha, o escritor mineiro não se apega à literalidade, transcendendo a mera transcrição e encontrando um diálogo, uma irmandade, a “formação de um dueto fantasmagórico” com a autora.
Vide a primeira frase de “A visionária”: “Silent is the house: all are laid asleep:”, que foi transposta para: “O sono habitava a casa do silêncio”. Temos, de fato, um livro que são dois, dois escritores que se completam ao se distinguirem.
O vento da noite pode não ter a estratosfera de O morro dos ventos uivantes, mas é um clássico em seu diminuto universo.
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Livro: O vento da noite
Editora: Civilização Brasileira
Avaliação: Muito bom