A obsessão pela notoriedade é o que governa o protagonista de O lado imóvel do tempo, de Matheus Arcaro. Salvador dos Santos, um sujeito assombrado pelo fantasma do pai austero, colecionador de fracassos e medíocre na vida pessoal, na profissional e no intento de se tornar um célebre poeta.
Tomado, então, por um forte ressentimento, decide, já aos 70 anos, compensar a série de frustrações com uma série de assassinatos. A essa lógica torpe, dá o nome de arte.
“Preciso da primeira página, de matérias longas e ilustradas, de horas de reportagens ao vivo na televisão. E, pra conseguir isso, tenho que matar vários, com critério. Mas, que direito tenho de matar para me imortalizar? Que direito não tenho? A palavra direito é tão vazia quanto minha fé no homem. Eu construo meus direitos! (…) De mãos dadas com os cadáveres, nadarei contra o fluxo do tempo”.
Depois da bem comentada estreia no conto, o autor paulista aplica, no romance, o mesmo vigor literário calcado na associação lírica e na dimensão psicológica dos personagens. O resultado é o fluxo denso de uma voz interior que carrega, em si, reflexões transviadas, frequências de delírio e doses de escárnio e de misantropia.
Apesar de um excessivo rebuscamento da linguagem, Arcaro demonstra bom domínio na construção dessa narrativa sobre um homem que mata pessoas para se vingar da literatura.
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Livro: O lado imóvel do tempo
Editora: Patuá
Avaliação: Bom