Uma boa ideia do que motiva Toda prosa, antologia de crônicas de Adriana Sydor, está na postura de um casal, no alto de um prédio, que a autora espia com constância e admiração.
Acomodados na sacada, eles testemunham as transições do dia, entabulando uma conversa que se dá pelo silêncio. “não há tristeza no que vejo, só uma placidez contemplativa e bonita de quem sabe sentar e olhar para o tempo”.
Pois é também assim, olhando o tempo com serenidade, que a historiadora curitibana encontra matéria para seus textos: na leveza das ocorrências diárias, dos pequenos acontecimentos, do que repercute à beira de si.
Selecionadas do blog Mil Compassos, as narrativas se abastecem dos mais variados temas, cujas origens estão no plano movediço dos sentimentos e na vontade de materializar a experiência do olhar. Adriana excursiona, com liberdade, pelo real, pelo fictício e por uma realidade que se decanta da imaginação.
Desse modo, infância, maternidade e casamento se intercalam à impressões sobre costumes, influências literárias, preferências musicais e a incômoda insônia. A coletânea ainda contém em si um tipo de poesia incidental que traz à lembrança os sonetos de García Lorca.
Como escreveu o moçambicano Mia Couto, “nenhuma palavra alcança o mundo. Ainda assim escrevo”.
Escrever também parece bastar, para Adriana Sydor; decifrar a vida por meio de uma soma de trivialidades que, não necessariamente, precisa explicar o mundo.
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Livro: Toda prosa
Editora: Travessa dos Editores
Avaliação: Bom