Autor de dezenas de roteiros para teatro, cinema e televisão, o renomado ator e diretor Domingos Oliveira estreia na literatura ficcional com o romance Antônio: o primeiro dia da morte de um homem.
A trama versa sobre o personagem em questão, um sexagenário professor de antropologia e dublê de escritor que, depois de ser deixado pela mulher com quem viveu 18 anos, decide se entregar à liberdade de duas paixões: os livros e as mulheres.
Desse modo, acaba por se relacionar simultaneamente com Nádia e Manuela, jovens sedutoras, cujo desprendimento diante da vida causa-lhe um choque entre o mundo que conhecia, dos longos relacionamentos e sentimentos duradouros, para o mundo de hoje, onde tudo é fugaz, perecível.
Esse estranhamento ainda ganha força com a presença de Eduardo, o fantasma de um amigo recém-falecido, que funciona como uma espécie de consciência paralela, sempre questionando os atos e as decisões do protagonista.
Domingos constrói seu romance com materiais temáticos comuns à sua obra: o embate entre os sexos, os laços de amizade, a filosofia masculina que vai se tornando um idioma indecifrável no universo feminino.
Com o controle absoluto sobre a narrativa, o autor intercala vozes em primeira e terceira pessoa, fala diretamente com o leitor e oferece a sensação de que o texto se completa durante a leitura, de que é passível de reviravoltas a qualquer instante.
Esse efeito empresta ao enredo uma plástica cinematográfica, formatando os capítulos em cenas que parecem carregar etiquetas referentes aos seus conteúdos: a descoberta da traição, a primeira transa, a decepção, o recomeço.
Ainda assim, tal disposição não atrapalha o andamento e a leveza da história, recheada de observações perspicazes e passagens divertidas que deixam claro que Antônio: o primeiro dia da morte de um homem é um livro sobre amores, os doces e os amargos.
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Livro: Antônio: o primeiro dia da morte de um homem
Editora: Record
Avaliação: Bom