O papel de parede amarelo, da norte-americana Charlotte Perkins Gilman, foi escrito em 1892 e é baseado nas experiências da própria autora.
Com o tamanho de um conto longo, ou de uma noveleta, a história versa sobre o drama de uma esposa que, confinada numa casa provisória para se tratar de uma doença mental inespecífica, caminha para um colapso psicológico provocado pela conduta opressiva do marido médico.
A subserviência e as pequenas humilhações aceitáveis vão construindo uma atmosfera densa de terror, à medida que a privação total resulta na obsessão pelo tal papel de parede, no delírio de que em sua textura pálida transveste o mal.
O teor sombrio, que dialoga com as narrativas de Edgar Allan Poe, por exemplo, naturalmente levou o texto ao rótulo de um gênero; o que não deixa de estar correto, porém não faz jus a toda carga simbólica que carrega as suas páginas.
Charlotte Perkins passou pelo mesmo tratamento ao qual foi submetida a sua personagem. À época casada e com uma filha, foi aconselhada a se limitar a trabalhos domésticos e abandonar de vez a escrita.
Acertadamente, abandonou o marido e, livre do pendor masculino, tornou-se uma das precursoras na luta pela igualdade sexual, atuando até o fim da vida em ações voluntárias que cobravam o respeito, a valorização e a proteção das mulheres.
Não por menos, O papel de parede amarelo é considerado um clássico da literatura feminista, vigorando até hoje como bandeira do movimento.
Vale destaque para a cuidadosa edição, que inclui um ensaio de 1973 da educadora Elaine Ryan Hedges, estudiosa da contribuição das mulheres americanas nas artes, e um atento prefácio da filósofa e escritora Marcia Tiburi.
Um livro pequeno, de aspecto delicado, mas que contém um significado social que excede os limites internos de sua história.
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Livro: O papel de parede amarelo
Editora: José Olympio
Avaliação: Bom