José Luís Peixoto é, hoje, um dos escritores mais consagrados da literatura contemporânea portuguesa. Seus livros, que transitam da prosa ao verso, foram traduzidos para diversos idiomas e premiados dentro e fora do seu país.
Morreste-me, que inaugurou sua carreira em 2000, chega finalmente às livrarias brasileiras. E, a despeito da longa espera, a leitura compensa cada dia. A despeito do tamanho um pouco maior que o de um conto, o enredo é dos mais densos, pungentes e assombrosamente lindos.
Cada frase ressoa a voz grave e ao mesmo tempo de uma inflexão poética que viria a se fixar um traço distinto na obra do autor. Peixoto dá a impressão de estar, a todo custo, à procura da palavra exata, a única capaz de produzir a sonoridade exigida. Em Morreste-me, esse ofício apurado espraia-se num ritmo caudaloso que encontra a sintonia de uma elegia, de um réquiem.
O leitor se vê diante de uma declaração de amor, mas também de pesar. A tristeza plena causada pela morte recente do pai, uma “dor oceânica”. O fluxo testemunhal oscila entre o agora e o antes, visitando cenas compostas com a matéria de olhares, lembranças e sentimentos: a infância, a saída de casa, a descoberta da doença, o tempo de internação, o acompanhar do féretro, o retorno à casa desabitada do pai.
Recordar, no esvaziamento da vida, passa a ser um prolongamento da existência. Tornar um adeus não quisto em homenagem. A narrativa, dessa forma, rasga a alma e alcança um efeito comovente no choro do menino que morre e do adulto que passa a carregar uma história que não sua.
Vale registrar que o livro conserva o português original, e isso pode causar certa estranheza. Todavia, um idioma tão estranho como é o idioma do luto para aqueles que nunca tiveram de se expressar por suas palavras.
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Livro: Morreste-me
Editora: Dublinense
Avaliação: Muito bom